Era sexta à noite e fui com ele sair. Discoteca? Sim. Como de costume ele encostava-se a uma canto e não saía até perder as forças para resistir. Puxei-o para o meio da pista e de repente vi-a! Junto ao bar, numa troca estranho de algo que entra do bolso de alguém e uma nota que passa para a mão dela. Tornou-se mais sério do que pensava. Já não era só consumo. Percebo agora o porquê daquela porta fechada. Não queria que fosse assim mas na manhã seguinte esperei que acordasse. Íamos ter a conversa que há muito esperava. Disse-lhe tudo. O que pensei, o que planeei, o que não quis, o que me veio à ideia, o que a fez chorar e pedir desculpa. Não era suficiente para apagar mais de três meses de uma mentira e de um comportamento inaceitável. Ela era das poucas pessoas que podia perceber a minha aversão a essas coisas.
A nossa conversa foi interrompida. A campainha. Um forte bater na porta.
Era a polícia. Uma autorização de busca por substâncias ilegais. Admitiu. Não fui implicado. Foi detida. No dia antes de tomarem uma decisão sobre os acordos do advogado com o Ministério Público suicidou-se.
Chorei, chorei como nunca tinha chorado antes! Não consegui ir ao velório. Não queria. Queria mantê-la viva. Para mim!

