segunda-feira, 25 de junho de 2007

papel e caneta

Há muito que não me sentava a escrever com papel e caneta. É tão mais rápido escrever directamente no computador: sento-me no sofá, ligo a televisão num qualquer canal e tiro-lhe o som, abro o laptop e começo a escrever. Mas hoje foi diferente: sentei-me à mesa de jantar, desliguei a televisão, fechei a porta da sala (malditas obras!) liguei a aparelhagem. Não gostei da musica que passava na RFM (Phill Collins?) por isso pus um CD ridículo que gravei antes-do-rei-fazer anos, play faixa 13: Kyo – je saigne encore. Parei!...


… “ça fait mal, crois moi”? foi o que ele cantou ou foi “croix moi”?


É, ele cantou com “s” mas com um “x” faria para mim tanto sentido.


Croix moi! Crucifica-me! A Ana Filipa diz que “a vida é um dom extremamente precioso” e eu não estou, de todo, disposto a desperdiçar esse dom. Quero continuar a respirar(-te), a sentir que posso amar.


Não consigo perceber se já escrevi muito ou pouco. Já fazia mesmo muito tempo que não escrevia nada com caneta. Para ser sincero, a ultima vez que peguei numa caneta, sem ser para estudar, foi quando fui comprar os bilhetes para os Keane – a menina da bilheteira pediu-me um autógrafo.



Por falar em Keane, lembrei-me que lhe podias dizer para vir connosco ver os Keane mas já vais passar o fim do dia de hoje (estou a escrever a 22!) – parabéns – enquanto eu fico em casa por causa das obras (vão acabar tarde e ainda queria limpar alguma coisa. Desculpem-me ser egoísta (ou egocêntrico, nem sei bem) mas não consigo…


Foi bom teres ligado, ter falado contigo acalmou-me. Fez-me rir como é possível seres assim? Dez minutos antes de me rir contigo chorava por ti!




Queria aproveitar para vos deixar duas palavras. Uma a cada pessoa…


A ti, um “desculpa”. Desculpa pelo afastamento nos últimos dias, desculpa por ser chato nos outros dias. Desculpa por estar sempre a pedir desculpa…




À Filipa, um “obrigado”. Obrigado pelo mail, obrigado pela tarde e noite de sábado (ao Ika também agradeço, agradeci aliás, mas ele não lê mesmo o blog – sim, só escrevi isto para alguém lhe dizer para vir ler). O auge dessa noite foi mesmo o Marcelo a cantar. Não consigo escolher entre a musica do falcete (LINDO!!!) e a Paixão do Rui Veloso, a quem peço perdão mas… amigo desiste, depois de ouvires o Marcelo a cantar a tua música e não a a cantar!


[fica aqui a "música do falcete"... o MEDO REINA na rua da escuridão


tas perdido procura a minha mão!]



Desejos e ensejos na “gravação” da recta final. Não perca em exclusivo o(s) ultimo(s) episodio(s) aqui nas suas – alto ai! Nas minhas! – vidas em rosa choque!

sexta-feira, 22 de junho de 2007

de calças....

[22º post no dia 22! ainda que um dia 22 com pouco sol, pelo menos para mim!]





Decidi, por ora, interromper a saga “desejos e ensejos” que se aproxima do final, ainda por decidir, para vos esclarecer sobre um comentário que fizeram a um artigo neste blog. No dia 13 de Junho o usuário ZéTrolha (sem ofensa!) comparou-me a “Candace Bushnell de calças” – palavras do próprio ZéTrolha (sem ofensa!). Para quem não sabe esta senhora vive em Nova Iorque e é conhecida pela sua coluna de sexo que se tornou na inspiração da série Sex and the City, série que não tinha por habito acompanhar – vi se apanhasse um episódio a meio enquanto praticava zapping. Acontece que depois do comentário do ZéTrolha (sem ofensa!) decidi acompanhar a série de forma mais atenta. Vi os episódios “nem mas, nem meio mas” e “Seremos pegas?” acontece que no meio de um ambiente de taciturnidade os dois episódios supracitados me animaram e me fizeram pensar que ser considerado a alguém cujos textos deram origem a uma série de terrível sucesso (suprima-se o sentido pejorativo da expressão e leia-se: de enorme sucesso) é algo de extremamente boní(ti)ssimo.



Ao sr. ZéTrolha (sem ofensa!) o meu mais franco e desmedido obrigado.



A todos os que comentam um também descomunal obrigado. Aos que lêem o blog embora não o comenta um desconsolado obrigado por me visitarem, há sempre a hipótese de uma palavra proferida pessoalmente como alguns fazem. Também a eles um gesto de agradecimento.

domingo, 17 de junho de 2007

Desejos e Ensejos - Cap. IV - Não fizeram as malas.

Se ontem Gabriel sentia euforia(?) depois da conversa com Gonçalo, hoje sentia-se triste, ao deitar…




Tomé agarrou Gabriel pela mão e saíram do quarto a correr atravessando os longos corredor, passando pelo porteiro sem sequer se desviarem da empregada que depois de almoço fazia a limpeza enquanto apressadas as pessoas saíam para trabalhar depois de um rápido almoço. Corriam em direcção ao jardim da cidade, as flores amarelas para eles sorriam, e eles nem notavam. Pararam. Tomé largou, finalmente, a mão de Gabriel para o agarrar e se deleitar na volúpia de um doce e longo beijo. Gabriel percebeu: Não era ciúmes que Gonçalo sentia, era a confiança traída. Era o seco golpe na amizade que os unia. Sabia agora que não podia deixar Gonçalo vir busca-lo a Roma. Não seria capaz de lidar com a situação em frente a Tomé. Seria incapaz de lhe dizer o que havia sentido naquele telefonema. Tinha que lhe dizer… Mas não ia interromper o bom beijo de Tomé. Queria Tomé até ao fim das suas forças. Abraçá-lo, beijá-lo, fazer amor com ele, como tinham feito todas as noites desde que se casaram. Possuí-lo. Como faria nessa noite ao deitar se Gabriel não se sentisse amargurado com o que estava a fazer a Tomé. Sentou-se, levantou a almofada, acendeu a luz, beijou Tomé e pediu-lhe para o ouvir.


– Não posso, amor, não posso perder-te… – Abanou a cabeça e tapou a boca a Tomé com o dedo indicador. – Não fales, escuta-me antes. Liguei ao Gonçalo ontem por causa da editora. Daqui a três dias o Gonçalo viria até Roma e iríamos os três para Portugal. Não quero. Achei que ele tinha feito uma cena de ciúmes quando lhe disse que tínhamos casado, mas não… – Parou. – Era uma amizade ferida. Um amigo magoado. Peço-te que me compreendas a satisfação do reencontro e que me perdoes a alacridade com que estava disposto a recebe-lo em meus braços. Amo-te Tomé. Agarra-me, não me deixes fugir. Une-nos mais que estas alianças que trocamos.

Tomé chorava, olhava Gabriel nos olhos sem palavras para verbalizar o que sentia:

– Amo-te, não era capaz de te deixar ir Anjo meu. – Beijou-o e entregou corpo e alma a Gabriel.
















– LibrusNovus, bom dia. – Dizia a suave voz do outro lado da linha.

– Bom dia, Clara, tudo bem? Fala Gabriel Sacadura. Duas coisas: Confirmar os voos de sexta-feira e falar com Gonçalo Neves.

– Olá Sr. Dr., como está? Podia dizer-me os nomes que constam nos bilhetes?

– Gabriel e Tomé Sacadura.

– Ai que giro. O seu colega tem o mesmo apelido que o Sr. Dr. – Dizia Clara enquanto ao teclado verificava o pagamento dos bilhetes.

– Clara, Gabriel chega perfeitamente. E não… não é meu colega. É o meu marido.


O silêncio de Claro espelhava a sua espantada palidez:

– Sim, claro, perdão. Os bilhetes estão pagos. Os comprovativos de reserva estão já com a sua assistente. Quer então que transfira a chamada para o Dr. Gonçalo?

– Sim, muito obrigado.

A Quinta Sinfonia de Beethoven mal chegou a soar e já se ouvia Gonçalo:

– Olá Gabriel. Passa-se alguma coisa? Costumas ligar directamente para a minha linha.

– Confirmar os bilhetes para sexta-feira. Desculpa. Não venhas. Não seria capa

z de te dizer como te interpretei mal, não seria capaz de trair assim o Tomé. Falamos ai.

– Claro que sim. Não te preocupes.




Despediram-se e desligaram como se nada fosse. Gabriel mais aliviado, Gonçalo ainda sem acreditar que gostamos de ser amados mesmo que não tenhamos o mesmo tipo de sentimentos por essa pessoa. E isto aprendeu Gabriel com a Inês. “Obrigado”, pensa ele enquanto conduz até casa para ir fazer as malas. Partiriam dentro de dois dias e já não voltaria aos escritórios de Roma antes da viagem. O avião faria voo directo até ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro.


Entrou em casa. Tomé saíra do banho. Fizeram amor. Não fizeram as malas.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Desejos e Ensejos - Cap. III - Mais uma vez... o telefone

Gabriel lembrava-se perfeitamente das palavras que quinze anos antes, ainda na tenra idade dos dezoito anos, escrevera no caderno de folhas recicladas que lhe ia servindo de diário. Como era diferente a sua visão do mundo, como é igual a sua história. Os amores e os desamores.








Gabriel viva agora em Itália, nos arredores de Roma. Trabalhava como editor na QueerNovus, preparando a abertura da editora também em Portugal. Desculpa mais que suficiente para as muitas chamadas que fazia Portugal. As mais longas para Gonçalo, que geria a empresa que financiaria a introdução das lojas da editora no mercado português. Foi numa das mais longas conversas que Gabriel contou a Gonçalo que havia tirado três semanas de férias, que havia ido para a Alemanha com o namorado, Tomé, e que lá haviam casado, com o testemunho de Pedro e Inês que com eles passaram uma semana no Hotel Loccumer Hof em Hannover.


– Porquê? Porquê só agora Gabriel? Acho que merecia ter sabido antes. – perguntava Gonçalo.

– Merecias sim, Gonçalo. Mereces sim… – balbuciava Gabriel entre choros e suspiros – Mereces tanto… Mereces demais... Mereces ao ponto de me fazer duvidar do que fiz. De me fazer acreditar que se não o fizesse tu poderias ser meu.

– Acalma-te, também não te quero assim… Devia ficar feliz por ti. Queres que fique?, eu fico. Só não me peças para perceber o egoísmo com que me escondeste tudo isto.

– Egoísmo… Ai está uma coisa da qual não me podes acusar. Sempre vivi para ti. Vivia para respirar o ar que respiravas. Para te limpar as lágrimas que nunca foste capaz chorar no meu ombro. Vivia para sentir o nunca dado abraço. Agora que achei que me ia conseguir soltar disso vens e chamas-me egoísta. Sabes… Gostavas de me ter por perto, gostavas de te sentir desejado senão amado mesmo. Eu próprio sempre gostei de te amar, mesmo quando isso me fazia sofrer, qual trespassar de flecha. Desisti. Desisti de te conquistar, de te amar… e agora vens-me chamar aquilo que, por ti, nunca fui… Sempre me tiveste aqui contigo, para ti, para tudo. Deixa-me se feliz.


Gonçalo estava calado, havia habituado Gabriel a isso, mas desta vez o silêncio incomodava. Gabriel acabou por desfazer-se numa pranto tentado tornar audíveis as suas palavras.

– Desculpa, Gonçalo, desculpa… como pude dizer-te tais coisas… como fui insensível. Desculpa-me…

– Oh, como és.. nem sei.. claro que desculpo. Eu percebo-te, percebo como te sentes, mas preferia falar contigo pessoalmente. O vosso contracto fica pronto amanha. Daqui a dois ou três dias podem começar a transferência. A tua transferência. Vou buscar-te a Roma.




Desligaram sem mais uma palavra. Ambos sabiam que iriam apresar o mais possível o reencontro. Ambos sabiam o quanto isso fazia mal a Gabriel. E Tomé, como ficaria ele nesta confusão toda? Gabriel tinha garantido a Tomé um cargo numa das empresas da família, mas a nível pessoal as coisas não eram tão simples. Portugal era para Tomé mais do que a terra natal, o seu país. Portugal pressagiava o encontro de Gonçalo e Gabriel.




domingo, 10 de junho de 2007

Desejos e Ensejos - Cap. II - O telefone

Gabriel escreveria “Querido diário,” antes de “O dia hoje começou com chuva. Dormi nu – não que tenha um corpo bonito de admirar e louvar como aqueles que apresentam a colecção Verão 2007 de calções de banho do El Corte Inglés, mas apeteceu-me. Asneira: Estou constipado!” se não achasse uma “piroseira”, como dizia ele à mãe. Maria Hellena – a mãe –, era uma mulher austera com a família e com os valores (sociais?), recusava-se a conformar-se com a bissexualidade do filho, que para ela ainda era pior que homossexualidade: “Pelo menos esses, Gabriel, não se metem com qualquer um, como o menino”.


Era depois de estas acesas discussões com Millena Sacadura, como era conhecida do mundo do socialite, que Gabriel se enclaustrava no quarto a escrever o diário que um diz esperava ver editado. Gabriel sabia que o nome Sacadura ainda lhe valeria de alguma coisa, ainda que, para Millena, fosse uma vergonha ver o tão honrado nome de família associado à publicação de desaires (homo)sexuais.


Foi um momento desses. Gabriel sentou-se ao computador e começou a escrever sem filtrar as palavras que pela caneta surgiam:


“Cruzei-me com o Diogo na estação quando estava à do meu comboio para Lisboa. Não falamos nada desde então. Teima em não responder às minhas mensagens. Não sei mesmo o que fazer. Aliás.. Sei. Ignoro-o.


Estou farto. Farto de tentar escrever e só me sair namoricos e amores não correspondidos. Afinal, não são só eles que me preocupam… os amigos também. O Pedro e a Inês – as coisas estiveram difíceis entre nós numa destas noites. Eles decidiram deixar-me algures no meio de uns amigos (a Rita também lá estava, é verdade, mas não é a mesma coisa.). Já resolvemos os nossos problemas e agora sinto-me mais ligado a eles, ao Pedro particularmente, até porque a minha relação com a Inês já era muito boa! Eu…”




Gabriel levantou-se: o telefone tinha tocado. Millena estava a chamar Gabriel, era a Francisca. Tinha chegado de viagem. Tinha ido com os pais a Nova York.


- Gabriel, que saudades tinha de te ouvir. – Francisca falava tão depressa que Gabriel, por vezes, tinha que pedir para repetir. – Cheguei agora de Nova York. Entrei em casa, peguei no telefone e liguei-te. Isto já há vinte minutos. Sabes como é a tia Millena. Como vão as coisas? Como vais tu?


- Eu, bem, eu…


Francisca interrompe Gabriel com um grito estridente:

- Ai, Gabriel, não te ouvir a choramingar de novo. Tu precisas mesmo é de ver o que comprei na Fifth Avenue ou na Seventh Avenue. A minha mãe continua a achar que a Fashion Ave devia ser a Fifth Avenue e não a Seventh Avenue. Acabei por não entrar no Museu Solomon R. Guggenheim. Olha… vem ter comigo: conto-te já as novidades todas. Quinze minutos e tens o nosso motorista ai à porta. Beijo.


- Não...




Desligou e Gabriel foi buscar o casaco e os óculos de sol para sair. Não disse nada à mãe que havia estado sentada ao piano, mesmo à sua frente, sem nada tocar durante todo o telefonema de Gabriel. Saiu.