quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Eis-me a mim, Narciso.

Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar a sua própria beleza num lago. Estava tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.

Quando Narciso morreu, vieram as Oréiades – deusas do bosque – e viram o lago transformado de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.

- Porque choras? -– perguntaram as Oréiades.

- Choro por Narciso. - –disse o lago.

- Ah, não nos espanta que chores por Narciso. - Continuaram elas. –- Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque, tu eras o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto a sua beleza.

- Mas Narciso era belo? -– perguntou o lago.

- Quem mais do que tu poderia saber disso? - – responderam, surpresas, as Oréiades. - Afinal de contas, era nas tuas margens que ele se debruçava todos os dias!




O lago ficou algum tempo silencioso. Por fim disse:

- Eu choro por Narciso, mas nunca tinha percebido que Narciso era belo.
Choro por Narciso, porque todas as vezes que ele se debruçava sobre as minhas margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza reflectida.”


Texto retirado do livro "O Alquimista" de Paulo Coelho

1 comentário:

Amélia Grimaldi disse...

narciso não era uma personagem bichona do Wilde? Ou seria do Felinni? Bem..., era Chona. Valha-me deus! Onde o "bírus" vai chegar?!