quinta-feira, 14 de junho de 2007

Desejos e Ensejos - Cap. III - Mais uma vez... o telefone

Gabriel lembrava-se perfeitamente das palavras que quinze anos antes, ainda na tenra idade dos dezoito anos, escrevera no caderno de folhas recicladas que lhe ia servindo de diário. Como era diferente a sua visão do mundo, como é igual a sua história. Os amores e os desamores.








Gabriel viva agora em Itália, nos arredores de Roma. Trabalhava como editor na QueerNovus, preparando a abertura da editora também em Portugal. Desculpa mais que suficiente para as muitas chamadas que fazia Portugal. As mais longas para Gonçalo, que geria a empresa que financiaria a introdução das lojas da editora no mercado português. Foi numa das mais longas conversas que Gabriel contou a Gonçalo que havia tirado três semanas de férias, que havia ido para a Alemanha com o namorado, Tomé, e que lá haviam casado, com o testemunho de Pedro e Inês que com eles passaram uma semana no Hotel Loccumer Hof em Hannover.


– Porquê? Porquê só agora Gabriel? Acho que merecia ter sabido antes. – perguntava Gonçalo.

– Merecias sim, Gonçalo. Mereces sim… – balbuciava Gabriel entre choros e suspiros – Mereces tanto… Mereces demais... Mereces ao ponto de me fazer duvidar do que fiz. De me fazer acreditar que se não o fizesse tu poderias ser meu.

– Acalma-te, também não te quero assim… Devia ficar feliz por ti. Queres que fique?, eu fico. Só não me peças para perceber o egoísmo com que me escondeste tudo isto.

– Egoísmo… Ai está uma coisa da qual não me podes acusar. Sempre vivi para ti. Vivia para respirar o ar que respiravas. Para te limpar as lágrimas que nunca foste capaz chorar no meu ombro. Vivia para sentir o nunca dado abraço. Agora que achei que me ia conseguir soltar disso vens e chamas-me egoísta. Sabes… Gostavas de me ter por perto, gostavas de te sentir desejado senão amado mesmo. Eu próprio sempre gostei de te amar, mesmo quando isso me fazia sofrer, qual trespassar de flecha. Desisti. Desisti de te conquistar, de te amar… e agora vens-me chamar aquilo que, por ti, nunca fui… Sempre me tiveste aqui contigo, para ti, para tudo. Deixa-me se feliz.


Gonçalo estava calado, havia habituado Gabriel a isso, mas desta vez o silêncio incomodava. Gabriel acabou por desfazer-se numa pranto tentado tornar audíveis as suas palavras.

– Desculpa, Gonçalo, desculpa… como pude dizer-te tais coisas… como fui insensível. Desculpa-me…

– Oh, como és.. nem sei.. claro que desculpo. Eu percebo-te, percebo como te sentes, mas preferia falar contigo pessoalmente. O vosso contracto fica pronto amanha. Daqui a dois ou três dias podem começar a transferência. A tua transferência. Vou buscar-te a Roma.




Desligaram sem mais uma palavra. Ambos sabiam que iriam apresar o mais possível o reencontro. Ambos sabiam o quanto isso fazia mal a Gabriel. E Tomé, como ficaria ele nesta confusão toda? Gabriel tinha garantido a Tomé um cargo numa das empresas da família, mas a nível pessoal as coisas não eram tão simples. Portugal era para Tomé mais do que a terra natal, o seu país. Portugal pressagiava o encontro de Gonçalo e Gabriel.




3 comentários:

Rama disse...

Este é capaz de ter sido o mais forte desta pequena história nao??

uma reacçao inesperada por parte de gonçalo... nao estava a espera..

mas... que gabriel seja feliz...

peter_pina disse...

o Gabriel terá mesmo asas e nome anjo?.....

dp deste episodio vou reflectir sobre a escolha do nome! hum!

SEM TABUS disse...

eu também sou de desejos... aliás visita-me evês que sou até mais que isso! Belo blog. Bem vindo!