Estás a trabalhar e eu, invariavelmente, estou preocupado com “o que fazer para o jantar”. Apetece-me arroz de marisco. Onde encontrar o melhor arroz de marisco de Cascais? No cosmopolitan.pt, o restaurante do Afonso. Pego no telefone e ligo: “Sorry. We can’t establish connection to the number you dial. Try again later.” Foi o que eu fiz: tentei de novo. Continua a não dar. Quero mesmo arroz de marisco nem que tenha que ir agora cozinhar. Se há coisa que detesto é cozinhar. Vou tomar banho e vestir-me para ir às compras, são seis da tarde, ainda tenho tempo!

– São doze euros e trinta e quatro cêntimos, por favor. – Fiquei a olhar para o rapazinho da caixa do Jumbo. Giro, louro, olhos azuis escondidos por detrás de uns óculos de massa brancos.
– Dez, doze, vinte, trinta… e… cinco. – Ele, Ricardo Fernandes, dá-me o ticket e o meu cêntimo. Fazes colecção! Quem é que faz colecção de moedas de um cêntimo de euro? Só mesmo tu!
– Obrigado, boa tarde.
– Obrigado, igualmente.

O trânsito estava caótico e fez-me demorar mais a chegar a casa do que a fazer compras, mandei-te mensagem a dizer o que ia fazer para jantar e a pedir que não te demorasses porque depois o arroz seca. Cebola, tomate, alho, pimento, azeite, piri-piri e tenho o estrugido pronto. Já estou farto de cozinhar mas é para ti. Estou feliz: mandaste-me mensagem a dizer que te está mesmo a apetecer arroz de marisco. Prometeste que não chegavas atrasado hoje. Acabei de fazer o arroz. Oh como cheira bem aqui em casa. Já deves ter saído do escritório há pelo menos uns dez minutos e mais um quarto de hora e estás em casa. Na televisão dizem que agora o trânsito está calmo. Começam as notícias: homem viola mãe, idosa, com Parkinson; processo de corrupção no futebol arrasta-se há sete anos; presidente do banco da esquina demite-se por exigência do conselho de administração; cinco mortos, dois feridos graves e um ligeiro no acidente do nó de uma estrada com outra; casal gay suicida-se, em conjunto (?) porque há seis anos que vê recusados os pedidos de empréstimo. Ah…Estás quarenta e cinco minutos atrasado. Levanto-me e ligo-te: – Cherrie, estou a chegar.

Já são nove e meia e ainda não chegaste para jantar. Desisto e sento-me à mesa para jantar. Mesa posta para um: um individual, prato e guardanapo, um copo e os talheres de peixe. Oh… O arroz secou. Está empapado. Levanto-me e deixo o arroz no prato e a água no copo. Quando chegares aquece o comer, se te apetecer. Se não te agradar lava a loiça à mão, porque não vais ligar a máquina só por causa disso. Adeus, vou-me deitar. Não me fales, deixa-me dormir.


– São doze euros e trinta e quatro cêntimos, por favor. – Fiquei a olhar para o rapazinho da caixa do Jumbo. Giro, louro, olhos azuis escondidos por detrás de uns óculos de massa brancos.
– Dez, doze, vinte, trinta… e… cinco. – Ele, Ricardo Fernandes, dá-me o ticket e o meu cêntimo. Fazes colecção! Quem é que faz colecção de moedas de um cêntimo de euro? Só mesmo tu!
– Obrigado, boa tarde.
– Obrigado, igualmente.

O trânsito estava caótico e fez-me demorar mais a chegar a casa do que a fazer compras, mandei-te mensagem a dizer o que ia fazer para jantar e a pedir que não te demorasses porque depois o arroz seca. Cebola, tomate, alho, pimento, azeite, piri-piri e tenho o estrugido pronto. Já estou farto de cozinhar mas é para ti. Estou feliz: mandaste-me mensagem a dizer que te está mesmo a apetecer arroz de marisco. Prometeste que não chegavas atrasado hoje. Acabei de fazer o arroz. Oh como cheira bem aqui em casa. Já deves ter saído do escritório há pelo menos uns dez minutos e mais um quarto de hora e estás em casa. Na televisão dizem que agora o trânsito está calmo. Começam as notícias: homem viola mãe, idosa, com Parkinson; processo de corrupção no futebol arrasta-se há sete anos; presidente do banco da esquina demite-se por exigência do conselho de administração; cinco mortos, dois feridos graves e um ligeiro no acidente do nó de uma estrada com outra; casal gay suicida-se, em conjunto (?) porque há seis anos que vê recusados os pedidos de empréstimo. Ah…Estás quarenta e cinco minutos atrasado. Levanto-me e ligo-te: – Cherrie, estou a chegar.

Já são nove e meia e ainda não chegaste para jantar. Desisto e sento-me à mesa para jantar. Mesa posta para um: um individual, prato e guardanapo, um copo e os talheres de peixe. Oh… O arroz secou. Está empapado. Levanto-me e deixo o arroz no prato e a água no copo. Quando chegares aquece o comer, se te apetecer. Se não te agradar lava a loiça à mão, porque não vais ligar a máquina só por causa disso. Adeus, vou-me deitar. Não me fales, deixa-me dormir.
