terça-feira, 21 de agosto de 2007

Desejos e Ensejos - Cap. VI - Não te vou procurar.

– O lombo assado com ananás daqui é óptimo, amor. Experimenta. – Dizia Tomé a Gabriel enquanto tirava para o prato dois fillet para a servir com arroz com feijão preto, ignorando assim a preocupação do marido com Gonçalo.

– Sweetheart, acredito, e acima de tudo, sei, que te custa ouvir-me falar do Gonçalo, mas, acredita, que já ultrapassei – melhor – ultrapassamos tudo isso. O Gonçalo já foi bastante importante para mim. Ainda o é, mas como amigo. Não pode interferir no nosso amor.

– Gabriel, sweeeeetheart, é tudo muito lindo, – Tomé, pousara já o prato na mesa e transformava a sua raiva no discurso, que já chamara atenção das pessoas que por ali passavam ou almoçavam. – e é muito bom ouvir-te falar assim mas, merda(!), continuas a falar dele, a preocupar-te com ele.

– Tomé acalma-te. – Sentaram-se e agarrava com força a mão de Tomé, que a todo o custo tentava libertá-la. – Quero-te ao meu lado, hoje, quando o Gonçalo vier ao Porto. Quero-te comigo… sempre.

Tomé desatara num pranto apertando, agora a mão de Gabriel enquanto titubeava:

– Oh… oh… desculpa… sou… oh como sou parvo. Desculpa.

– Não sejas tonto. Sabes uma coisa? Amo-te!



Comeram, tomaram café no MeetingPoint, passaram na MYGOD onde Gabriel comprou uns sapatos para si e umas calças para Tomé – Achavam piada ao empregado. – e foram até casa. Gabriel havia pedido ao motorista de Millena Sacadura que fosse buscar Gonçalo ao aeroporto. “O motorista da minha mãe vais buscar-te. Conheces o carro. Ele sabe para onde ir.” – escrevia Gabriel na mensagem para Gonçalo.



– Gabriel, o porteiro ligou: o Gonçalo está a subir.

Gabriel correu para a sala, abraçou Tomé e beijou-o. Era o seu ‘obrigado’.


Gonçalo entrou com o ar pesado de quem transporta uma má noticia. Sentaram-se na sala sem se cumprimentarem. Tomé agarrava a mão de Gabriel como que para o não deixar fugir. Gonçalo falava há mais de meia hora sobre o que sentia por Gabriel e de como se sentia longe, mesmo estando consciente da existência de Tomé.

– Mal era se assim não fosse, estou aqui… – dizia Tomé com sarcasmo.

– Gonçalo, acredito que seja difícil para ti. Sentires o que sentes por mim, sabendo que não sinto mais do que uma grande amizade por ti, agora, e que tenho o Tomé. – Assim que Gabriel acabou a frase Gonçalo levantou-se, tomou o casaco e saiu. Não conseguira lidar com a sensação de perda tão bem como pensara. Tomé abraçou Gabriel e sussurrou-lhe um “amo-te” que lhe aqueceu o coração.






Todos se vestiam de preto hoje, três dias depois. Uma mulher debruçada no caixão chorava como se para si o mundo acabasse ali. Clara também chorava a morte do chefe. Havia sido para ela um importante apoio nas mais difíceis horas. Gabriel usava, hoje, pela primeira vez uma gravata preta, comprara-a no caminho. Não levava flores, não tencionava ir ao cemitério, não largara ainda Tomé. A mulher debruçada no caixão, Maria Amélia – a mãe de Gonçalo –, chorava a morte do seu filho. Passara toda a cerimónia agarrada ao caixão que, a seu pedido, se encontrava fechado. Chegara agora a altura em que Gabriel teria de largar Tomé e, a pedido de Maria Amélia, iria ler aquilo que, no fundo, seria a despedida de Gonçalo.


“Sempre tive dificuldade em te falar. Não por te conhecer pouco, nem sequer por não ter que te dizer. Mas por ter medo de te magoar. Também por me não saber expressar. Hoje, ainda não acredito que partiste. Vejo-te ai, à minha frente, fechado. Sempre assim foste: calado, preso em ti mesmo – fechado! Ainda não acredito que não te vejo mais, ainda que te sinta, a olhar por mim, pela tua mãe. Poderia dizer o teu nome. Chamar por ti, talvez. Se eu fosse poeta, se eu fosse Camões, Homero, acreditaria que isso te traria de volta, que ressuscitarias. Quero chamar-te e não consigo. Por ai diz-se que as pessoas não morrem enquanto pensarmos nelas. Não consigo chamar-te. Primeiro tenho que acreditar que partiste. Que escolheste partir. Que havíamos conversado no dia anterior. Tenho medo, diria que morro de medo mas não quero ferir susceptibilidades, tenho medo que o tenhas feito por não te sentires amado. Éramos amigos, tinhas a tua mãe. Até o cão anda às voltas sem saber onde andas tu, sem te encontrar do outro lado da trela, Gonçalo. Chamei-te, consegui dizer o teu nome. Continuas ai, quieto. Continuo perdido sem te saber onde. Não te vou procurar. Posso sair a correr pela rua a gritar por ti, o teu nome, e tu continuas sem aparecer. Vou agarrar-me ao Tomé e viver com ele a felicidade que, com certeza, quererias para nós. Vou sorrir no desabrochar de uma pequena flor, na brisa do vento. Vou, acima de tudo, respeitar-te e lembrar-te!”







4 comentários:

Anónimo disse...

este meu amigo escreve bem nao escreve?? xD

ele é demais.. =)

beijinhoOos para ti**

adorote muito!

Martinha disse...

Um desfecho em grande. :)
Parabéns pela história!
Beijinho Hugo *

Rama disse...

gostava de deixar assim um bom comentario ao final da historia... mas nao me sai nada alem de dizer k gostei de a ler.. podes criar mais historias daki para a frente...


abraço gajo

Sónia Neves disse...

So hoje li o final da historia... o trabalho nao me larga! Gostei...Muito sentimento e muita delicadeza na forma como escreves!

E quanto à tua rubrica "estou de olho" na tua coluna da direita, so tenho uma palavrinha obrigada! És um amigo muito fixe, tu sabes disso! Aguardo as tuas visitas e os teus sempre agradáveis comentários! ;)

Bjinhos