sexta-feira, 7 de março de 2008

Que o amor prevaleça! - Cap. I

Deixo-vos hoje o primeiro capítulo uma, muito, pequena história. Vou tentar o segundo capítulo para breve.




Homero olha com ar perdido para o mar de papéis espalhados pelo chão, entre os quais se acham contas de supermercado, certidões de nascimento, cartas, relatórios médicos, recortes, múltiplos vestígios da vida de alguém e da procura por indícios do seu paradeiro.


Nada do que existe à sua volta é imperecível, incluindo a parede falsa. Esta parede divide o apartamento de Homero – que divide com Salvador – do seu atelier. Homero é decorador de interiores o que o leva ao interior da vida das pessoas dos seus clientes.
Salvador é um jovem mecânico, trabalha numa oficina de motas no bairro onde nasceu. Um bairro simples, nos arredores da cidade.


Para além desse afastamento do mundo real, os dois têm em comum Gladys, uma artista plástica, por quem ambos nutrem um amor platónico.


Salvador é naturalmente um pessimista e tem uma visão cínica sobre a vida, por outro lado Homero é incapaz de se abrir aos outros, apesar de alimentar um fascínio pelas suas existências particulares. Fá-lo através dos outros, entra nas suas casas, lê os seus livros e tira fotografias dos seus pertences. Um homem encerrado no seu mundo interior mas com acesso (através do seu trabalho de decorador) aos mundos dos outros. Guarda para si, na objectiva de uma máquina fotográfica, cada pormenor da vida alheia, cada símbolo de individualidade em cada casa. A caixa de papel canelado doirado da Duquesa de Verágua, as sabrinas da filha da Dona Maria Alice Mello, a cigarreira de prata esquecida no escritório do Doutor Pinho Souza.


No meio desta disparidade na vida de cada um, Homero e Salvador perdem a fé na vida a dois, cansam-se um do outro. Discutem por tudo e também por nada. Perdem-se em contumácia, vivem debaixo de um mesmo tecto, dividem a mesma cama mas já não dividem um mesmo espaço! Envolvem-se de tal modo numa névoa de egocentrismo que nem reparam na ausência prolongada de Gladys.



Depois de procurarem Gladys na empresa onde trabalha, em casa dos pais, no café onde os três passavam serões. Telemóvel, campainha de casa, telefone fixo, dezenas de mensagem no atendedor automático.


Tal é a preocupação, Homero esquece a máquina fotográfica quando, naquela manhã sai do atelier para a casa-de-campo do casal Martins Henriques. Salvador ligou à irmã a combinar m almoço para falarem do que ia no seu coração. Para desabafar sobre o afastamento de Homero, o desapercimento súbito – ou talvez não! – de Gladys.
Foi este o impulso para uma recuperação do sentimento que unia os dois homens, no seu mais intimo espaço.


Gladys acabava, no fundo, por representar, um pretexto para os dois homens voltarem a acreditar na vida, acreditar no amor que nutriam um pelo outro. Gladys é o modo como Salvador e Homero se apercebem como as pessoas precisam umas das outras e como podem apoiar-se umas nas outras, e arranjar uma maneira de enfrentar qualquer dificuldade positivamente através do amor.




1 comentário:

Martinha disse...

Fiquei interessada pelo desenrolar da história... Gladys ficará com algum dos homens que a ama? Como se desenvolverá a intriga?

Deixaste-me curiosa... Venha o 2º capítulo!

Beijinhos Hugo *